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Ciência

Nova técnica de edição genética corrige doenças em células humanas

A CRISPR permite reparar mutações no RNA relacionadas à anemia e ao diabetes

Nuño Domínguez – 26/10/2017

Desde há mais de 3 bilhões de anos, inúmeras combinações e repetições das mesmas quatro letras foram suficientes para dar origem a todos os seres vivos do planeta. Os seres humanos são os únicos que desenvolveram um cérebro capaz de não apenas compreender o funcionamento básico desse alfabeto genético composto pelas quatro bases do DNA – adenina, guanina, timina e citosina, ou A, G, T, C –, mas reescrevê-lo graças à ferramenta de edição genética CRISPR. Isso já está sendo aplicado para corrigir defeitos genéticos em embriões humanos e está sendo estudado em pacientes com câncer de pulmão e outros tumores.
Nesta quarta-feira estão sendo publicados os detalhes de duas novas versões desse editor de texto genético que aperfeiçoam a capacidade dos seres humanos para reescrever o genoma dos seres vivos sem introduzir erros que poderiam gerar mutações perigosas.

O primeiro trabalho foi conduzido por Feng Zhang, um pesquisador norte-americano de origem chinesa que foi o primeiro a aplicar a CRISPR em células de mamíferos e que atualmente é um dos três nomes mais importantes nesse campo, ao lado das duas mulheres que desenvolveram a técnica, Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier. Os três estão envolvidos em uma batalha legal para controlar patentes sobre essa tecnologia.

equipe de Zhang no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) desenvolveu uma versão da CRISPR capaz de modificar o RNA, ácido nucleico que lê e transcreve as instruções escritas no DNA para sintetizar proteínas. Todas as versões desse intermediário genético também são formadas por quatro letras, as mesmas do DNA, menos o uracilo (U) no lugar da timina (T). Essas letras sempre se juntam em pares de bases, A com T e G com C. Muitas doenças raras de origem genética são desencadeadas por uma única letra de DNA mal situada na sequência.

A edição genética se inspira no sistema imunológico rudimentar com o qual alguns micróbios guardam em seu genoma fragmentos do genoma de vírus como se fosse um retrato falado que lhes permite identificá-los e lançar contra eles algumas enzimas que cortam o RNA viral e o desativam. Zhang e sua equipe descreveram um novo grupo dessas enzimas presentes em bactérias do gênero Prevotella, que inclui micróbios que normalmente vivem nos intestinos e na vagina. Os pesquisadores desativaram a capacidade dessas enzimas – as Cas 13b – para cortar o RNA e adicionaram a elas outra proteína que troca uma base de adenina (A) por outra de inosina (I), que é lida como se fosse uma guanina (G). Esse novo sistema se liga seletivamente a sequências determinadas de RNA e troca um A por um G. As mudanças são apenas temporárias – duram o tempo que o RNA leva para se degradar dentro da célula – e reversíveis, o que não acontece com a CRISPR convencional que é aplicada ao DNA e que, uma vez alterada, permanece assim para o bem ou para o mal.

“Até agora conseguimos desativar genes, mas recuperar a função das proteínas é muito mais complicado”, explicou Zhang em um comunicado de imprensa de sua instituição. “Essa nova capacidade de editar o RNA abre mais possibilidades para reparar essas funções e tratar muitas doenças em praticamente qualquer tipo de célula”, acrescenta.

Em seu estudo, publicado pela revista Science, os pesquisadores usaram seu editor, chamado Repair, para corrigir mutações nas células humanas que causam anemia de Fanconi e um tipo de diabetes. O sistema tem uma taxa de sucesso entre 20% e 40% e a equipe reduziu o número de erros que introduz no RNA de mais de 18.000 para apenas 20.

O estudo “antecipa uma série de aplicações muito interessantes do ponto de vista da pesquisa básica, mas também sua aplicação para tratar doenças congênitas, ou para reproduzir alelos, variantes protetoras de genes, por exemplo, corrigir um oncogene mutado para evitar sua ativação e que desencadeie a transformação tumoral”, diz Lluis Montoliu, pesquisador do Centro Nacional de Biotecnologia (CSIC), que não participou da pesquisa.

Um dos objetivos de Zhang é buscar novos tratamentos para doenças mentais com uma abordagem semelhante à utilizada para o câncer ou doenças cardiovasculares. O problema é que o nível de conhecimento dessas doenças ainda é muito menor, como ele mesmo explicou. Sua nova criação pode ajudar a compreender melhor o cérebro e seu funcionamento. “Por enquanto, esta seria a única ferramenta para estudar o que acontece quando uma base de adenosina se transforma em inosina e essas mudanças estão envolvidas com o desenvolvimento do cérebro e o surgimento do câncer”, explica Marc Güell, especialista em CRISPR e pesquisador da Universidade Pompeu Fabra.

O segundo trabalho, publicado nesta quarta-feira pela revista Nature, completa a caixa de ferramentas para modificar o DNA graças à primeira versão da CRISPR capaz de transformar pares de bases de AT em GC, o que permitiria corrigir uma alteração que é responsável pela metade de todas as mutações patológicas conhecidas, de acordo com o trabalho. Além disso, essa nova versão da CRISPR reduz de 10% para 0,1% a taxa de erros introduzidos no genoma de forma involuntária. Os pesquisadores demonstraram sua nova tecnologia corrigindo duas doenças sanguíneas causadas por esse tipo de mutações em células humanas. Graças a essa nova ferramenta já é possível editar qualquer uma das quatro letras do alfabeto genético.

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/25/ciencia/1508946003_990505.html

Expansão da Life

Life Grupo irá produzir e comercializar medicamentos à base de canabidiol no Brasil

Linha de medicamentos extraídos da planta de maconha segue estratégia do grupo de disponibilizar tecnologia de ponta com preços acessíveis. Empresa já oferece testes farmacogenéticos nacionalizados e com valores muito abaixo das versões importadas

A Life Grupo, do ex-presidente da Bristol-Myers Squibb no Brasil, Mario Grieco, vai investir inicialmente R$ 20 milhões em um projeto no interior de São Paulo focado na produção de medicamentos à base de canabidiol, substância extraída da planta da maconha.

Parte dos recursos será empregada na obtenção de licença para conseguir começar a linha de medicamentos. “O custo dos estudos clínicos para a Anvisa são altos e estarão disponibilizamos em uma segunda etapa do projeto que inclui a chegada da companhia norte-americana Knox Medical, detentora da tecnologia”, afirma o executivo.

A primeira fase do projeto prevê aportes em segurança em torno da fábrica e nas instalações, além de valores ligados à autorização de órgãos como a Polícia Federal.

Os remédios à base de canabidiol são indicados para casos de epilepsia. Existem vários estudos sobre a utilização do produto para outras doenças. Outra indicação do produto é na minimização dos efeitos colaterais provocados pelos tratamentos de doenças como câncer e Aids, que afetam o apetite de pacientes.

Os medicamentos à base de maconha seguem a estratégia do Grupo Life que é focada no acesso às tecnologias de ponta nacionalizadas e com baixo custo. Um vidro do medicamento custará, em média, R$ 290,00.

Na área de diagnósticos, a Life Grupo opera com a bandeira Life Diagnósticos. A empresa já vem produzindo e comercializando no Brasil testes farmacogenéticos para avaliar a eficácia e segurança de vários medicamentos de uso crônico. Os primeiros quatro testes disponibilizados são para drogas cardiológicas (Clopidogrel), câncer de mama (Tamoxifeno), calvície (Finasterida) e para evitar a rejeição de órgãos em transplantados (Natalizumab).

A nacionalização destes testes, inédita no mercado brasileiro, reduziu  em 80% os custos do procedimento ao paciente”, informa Mário Grieco. “Temos uma equipe formada por propagandistas com capacidade para visitação médica em todo país. Como atuamos em nichos específicos de mercado, não faz sentido investirmos em sedes próprias para o atendimento ao público. Nossa comercialização se dará via prescrição e a compra poderá ser feita por telefone ou e-commerce”, ressalta.

Com custo médio de R$ 500,00, os testes comercializados pela Life Diagnóstico podem ser consumidos por 671,5 mil pacientes, de acordo com os indicadores da Quintles IMS Health, que audita o varejo farmacêutico. “Estamos entrando na disputa por um mercado com potencial avaliado em R$ 335,5 milhões. Conseguimos apurar nosso potencial de mercado por meio do monitoramento do varejo”, explica Grieco.

Para viabilização do negócio, a Life Diagnóstico investiu R$ 30 milhões na construção de seu laboratório próprio e estruturação da divisão comercial.

Sobre a Life Grupo

Fundado em 2013 por Mario Grieco, a Life Grupo tem um modelo de negócio inovador ao atuar em diversos segmentos oferecendo um portfólio extenso de produtos e serviços voltados para a área da saúde. Esse modelo é fruto do espírito empreendedor e da experiência de seu fundador, que atuou por mais de 30 anos na indústria farmacêutica, liderando equipes e empresas de grande porte. A Life Grupo já recebeu cerca de R$ 30 milhões em investimentos entre 2015 e 2017 e prepara mais um aporte de R$ 20 milhões em 2018, alcançou o break-even-point e tem mostrado expressivos índices de crescimento nas receitas, que devem subir em torno de 30% este ano. Em 2016, cresceram 20%, apesar da crise.

O Grupo é formado por quatro unidades de negócios e duas empresas. São unidades a Life Diagnósticos, divisão especializada em Medicina Genética que abriga um laboratório de testes genéticos e farmacogenéticos, além de fornecer produtos e serviços de alta tecnologia para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças; a Life Farmacêutica, especializada em desenvolvimento, lançamento e promoção de medicamentos; a Life Publicidade, especializada no desenvolvimento de campanhas publicitárias para o setor de saúde; e a Life Distribuidora, especializada na distribuição de produtos farmacêuticos.

As empresas que completam o Grupo são a Vida, especializada na distribuição de cosméticos naturais, e a Saúde, especializada na distribuição e vendas de máquinas e equipamentos médico-hospitalares. A Life Grupo também mantém uma filial em Miami (EUA) para apoiar as atividades da empresa no Brasil.

 

Mais informações

Vital Agência

Fábio Pimentel – fabio.pimentel@vitalagencia.com – 11 9 3806 06 17

 

 

 

Tendências

Estudos? Graduação em maconha

Universidade do Norte de Michigan criou a primeira carreira focada em cannabis

GABRIELA MARTÍNEZ
Madri 23 OUT 2017 – 16:48 BRST

A legalização da maconha é realidade em cada vez mais países. Este psicotrópico gerou uma indústria que no ano passado gerou ganhos de 6,8 bilhões de dólares nos EUA e vários estudos pesquisam há muito tempo suas propriedades medicinais. Neste sentido, a Universidade do Norte de Michigan (NMU, em sua sigla em inglês) criou uma carreira de quatro anos focada no estudo da cannabis, seus usos e seus efeitos.

“Química de plantas medicinais” é o nome oficial da graduação que começou em agosto passado. Embora outras universidades como Harvard, a Universidade de Denver, a de Vanderbilt e a de Ohio ofereçam cursos em política e direito sobre a maconha, o programa oferecido pela universidade pública NMU é o primeiro a se concentrar em todos os aspectos desta planta. O currículo inclui disciplinas das áreas de química, biologia, botânica, horticultura, marketing e finanças.

“Sabemos que nos EUA e em muitos países os remédios tradicionais à base de plantas são muito utilizados, como os suplementos de ervas e os extratos”, diz Marc Paulsen, diretor do Departamento de Química. Os alunos irão estudar não só os benefícios da cannabis, também aprenderão a usar uma grande variedade de plantas medicinais.

“Ouvi pela primeira vez sobre este novo programa no semestre passado e imediatamente me uni ao projeto”, diz Benjamin Ritter, estudante de 19 anos. O jovem estudante espera se tornar produtor dessa planta para produzir remédio de alta qualidade e ajudar os pacientes que precisam, como sua mãe, que sofre de esclerose múltipla. O canabidiol presente na maconha poderia ajudar a controlar a espasticidade e dores musculares.

Os dois princípios ativos da cannabis com fins terapêuticos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). No caso do câncer, a planta ajuda a controlar as náuseas causadas pela quimioterapia e também tem sido usada para aumentar o apetite em doentes terminais de câncer ou de AIDS.

A indústria da cannabis promete. Os lucros gerados em Michigan estão estimados em mais de 700 milhões de dólares. Enquanto que em 2016 a venda legal gerou 6,8 bilhões de dólares, para 2021 deverá crescer para 21,6 bilhões, de acordo com a empresa ArcView Market Research, que investiga a indústria da maconha.

A ideia desta licenciatura surgiu no ano passado, quando o professor associado de química Brandon Canfield participou de uma reunião anual da Sociedade Americana de Química, na qual ouviu falar da necessidade de especialistas para esta indústria.

Alex Roth é outro dos 12 alunos que cursam essa graduação inovadora. O sonho deste jovem de 19 anos é trabalhar em uma das empresas mais prestigiadas da cannabis e depois iniciar seu próprio laboratório.

No entanto, neste centro de estudos não será plantada maconha. Embora em alguns Estados norte-americanos, como a Califórnia, seja legal cultivá-la, no Estado de Michigan está proibido. A erva é totalmente legal, tanto para uso medicinal como recreativo, em oito dos 50 estados dos EUA e no Distrito de Columbia. Em outros 29 Estados dos EUA é permitido o uso medicinal.

Além das oportunidades de negócios, a normalização do estudo da maconha poderia erradicar os preconceitos que existem em relação à planta. “Gostaria de liderar o movimento para normalizar a maconha e ajudar as pessoas que a consomem como alternativa à medicina tradicional”, diz Roth.

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/19/internacional/1508428040_927043.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM

Estratégia de expansão da Life é destaque na Folha de S.Paulo

Gotas de THC

A Life Diagnósticos vai investir R$ 20 milhões no próximo ano em projetos que incluem a produção, no interior de São Paulo, de medicamentos à base de canabidiol, substância extraída da planta de maconha.

Parte dos aportes previstos será empregada na obtenção de licença para conseguir começar a linha de medicamentos, afirma Mário Grieco, diretor-executivo da empresa.

“O custo dos estudos clínicos para a Anvisa são altos, além da negociação com a empresa americana que detém a tecnologia.”

A companhia dos EUA que desenvolve o remédio que ele pretende produzir aqui é a Knox Medical.

Ele prevê também aportes em segurança em torno da fábrica e nas instalações, além de valores ligados à autorização de órgãos como a Polícia Federal.

Os remédios à base de canabidiol são de tarja preta e indicados para casos de epilepsia e para compensar os efeitos de tratamentos de doenças como câncer e Aids, que afetam o apetite de pacientes, segundo Grieco.

“Parte do valor do investimento é próprio, faz parte de um plano maior de aportes da empresa, e o resto é de uma companhia médica dos EUA” afirma.

R$ 30 MILHÕES
já foram aportados pela Life Diagnósticos em linhas de exames e remédios

US$ 90
(cerca de R$ 290) é o valor de um frasco com 600 mg do medicamento nos EUA

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2017/10/1929006-fazenda-de-sao-paulo-nao-devera-recuperar-r-19-bi-de-empresa-ativa.shtml

Heróis anônimos da saúde*

Principal canal de dispensação de medicamentos no Brasil, as farmácias são fundamentais para o sucesso dos tratamentos prescritos aos pacientes por seus médicos. São também essenciais nas indicações para quem precisa de medicamentos isentos de prescrição, aqueles indicados para problemas de saúde menores que não requeiram uma consulta médica, como resfriados e cólicas menstruais corriqueiras. Toda essa importância é elevada exponencialmente diante da precariedade da infraestrutura da rede de saúde pública brasileira, que chega a ser inexistente em muitas cidades pequenas. Nas regiões mais longínquas dos centros urbanos, as farmácias muitas vezes são o único elo das populações locais com algum atendimento na área da saúde.

Mas uma farmácia não é nada sem pessoas atrás do balcão, especialmente os balconistas, os que geralmente estão na linha de frente e são o “cartão de visitas” de todo estabelecimento que preze por ter um atendimento eficiente. Diferentemente de muitos outros setores nos quais os balconistas também são peças-chave para a excelência no relacionamento entre empresa e cliente, no varejo farmacêutico eles vão além disso: podem amenizar e até curar, e com muito conhecimento especializado e peculiar ao exercício dessa função, as mais variadas dores que acometem os seres humanos.

Esses heróis anônimos da saúde fazem isso de diversas maneiras. A primeira, irritante e engraçada ao mesmo tempo, é decifrando as receitas médicas. Sou médico e digo isso com propriedade. É preciso muito conhecimento para entender o que boa parte da classe médica prescreve. Além de descobrir o nome do medicamento indicado, eles também auxiliam a decifrar qual a dosagem e o intervalo de tempo em que cada uma deve ser ministrada. Na seara dos isentos de prescrição, são eles que dão as orientações inestimáveis das melhores soluções para cada problema apresentado por aqueles que sofrem alguma dor.

Também são eles que auxiliam quem simplesmente quer um complexo vitamínico a fim de melhorar a imunidade, um shampoo ou um creme antirrugas. Quase 40% dos produtos comercializados em farmácias não são medicamentos e sim produtos de beleza e higiene pessoal, entre os principais; itens também fundamentais para o bem-estar físico, emocional e mental do ser humano.

Não se sabe ao certo o número de profissionais empregados atrás dos balcões das mais de 74.000 mil farmácias em operação no Brasil. Mas eles são tão importantes para os brasileiros que as indústrias farmacêuticas e fabricantes de produtos destinados à higiene e bem-estar os consideram vitais para o bom desenvolvimento de seus negócios. Assim como os laboratórios investem muito em representantes que divulgam seus medicamentos para médicos, destinam muitos recursos para que força de vendas idêntica visite cada farmácia brasileira a fim de levar as mesmas informações a farmacêuticos e balconistas.  É no ponto de venda que as indústrias verificam ainda se as suas estratégias comerciais estão dando resultados ou não, se há demanda por seus produtos e se a distribuição e estoques estão afinados com as necessidades da população.

Após mais de 30 anos atuando na indústria farmacêutica no Brasil e nos Estados Unidos, posso afirmar sem medo de errar que toda a tecnologia disponível hoje não substitui o sucesso obtido por qualquer laboratório no dia a dia do relacionamento com os profissionais das farmácias, bem como nenhuma consulta ao “Dr. Google”, essa recente moda da população de se informar nos sites de busca sobre os problemas de saúde, que tem vantagens e desvantagens – mais isso é assunto pra outro momento –, substituirá a relação do balconista com cada cidadão que precisa de seus cuidados dentro de uma farmácia.

*Artigo publicado na edição de outubro de 2017 da revista ABCFARMA – http://www.abcfarma.org.br/ 

Pesquisa

Estudo feito na Unicamp permite traçar o roteiro da obesidade

20 de setembro de 2017

Karina Toledo, de Lincoln  |  Agência FAPESP – Ao investigar, na última década, os fatores associados à crescente epidemia global de obesidade, cientistas identificaram dois eventos que contribuem fortemente para o ganho de peso.

Um deles é a alteração no perfil de bactérias que compõem a flora intestinal. Estudos publicados entre 2005 e 2007 mostraram que pessoas obesas geralmente apresentam um conjunto de microrganismos que favorece a absorção dos nutrientes da dieta. Ou seja, uma maçã pode ser mais calórica para uma pessoa gorda do que para uma pessoa magra. Mas se isso é causa ou consequência do sobrepeso ainda não se sabia ao certo.

Outro evento importante é a morte de um grupo de neurônios existente em uma região do cérebro chamada hipotálamo. Conhecidas como neurônios POMC, essas células são sensores de nutrientes e têm a função de avisar para o corpo que está na hora de parar de comer e que já há energia disponível para gastar. Após a perda desses sensores, mostraram os estudos, os indivíduos passam a sentir cada vez mais necessidade de consumir alimentos ricos em gordura e açúcar. Por outro lado, ficam com o metabolismo mais lento e armazenam grande parte da energia fornecida pela dieta desbalanceada.

“Começamos então a nos perguntar: o que vem antes? A mudança no padrão alimentar do paciente causada por um erro no sistema cerebral de controle da fome ou a alteração do microbioma intestinal? Nossos dados mais recentes sugerem que o hipotálamo é danificado muito antes de ocorrerem alterações no intestino”, contou Licio Augusto Velloso, coordenador do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos CEPIDs apoiados pela FAPESP.

Em uma palestra apresentada na manhã de terça-feira (19/09), durante a FAPESP Week Nebraska-Texas, Velloso apresentou resultados de um estudo realizado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp durante o pós-doutorado de Daniela Razolli.

O grupo realizou nos tecidos de camundongos submetidos à dieta rica em gordura saturada uma série de análises temporais – que ao todo durou quatro meses, tempo suficiente para o animal ficar obeso. Em vários momentos ao longo do período experimental, uma parte da colônia era sacrificada e tinha o cérebro e o intestino analisados pelos pesquisadores.

“Começamos a detectar alterações hipotalâmicas logo no primeiro dia da dieta obesogênica. Já as alterações na microbiota intestinal demoraram entre duas e três semanas para aparecer. É uma diferença temporal relativamente grande – considerando que são camundongos”, explicou Velloso.

Em estudos anteriores, o grupo da Unicamp já havia detalhado como os danos aos neurônios POMC acontecem. As moléculas de gordura saturada ingeridas são absorvidas no intestino, caem na corrente sanguínea e chegam ao cérebro, junto com os demais nutrientes da dieta.

No sistema nervoso central, uma célula de defesa conhecida como micróglia entende que aquele excesso de gordura é uma ameaça aos neurônios e começa a produzir moléculas inflamatórias como se estivesse combatendo um patógeno.

“Essa inflamação, inicialmente, prejudica o funcionamento correto dos neurônios hipotalâmicos. Caso perdure por muito tempo, as células acabam morrendo. Esse, provavelmente, é o motivo pelo qual indivíduos que permanecem obesos por muito tempo têm dificuldade para emagrecer e recaem na doença mesmo após diversos tratamentos. Essas pessoas simplesmente não conseguem mais atingir um equilíbrio do fluxo de energia no corpo”, comentou Velloso.

Como o experimento com camundongos mostrou, os danos neuronais têm início muito antes de o indivíduo começar a engordar, mas podem ser revertidos no início do processo. Caso o erro alimentar perdure, disse Velloso, a lesão neuronal torna-se irreversível.

“Se o indivíduo comer uma refeição rica em gordura saturada, mas depois passar vários dias à base de uma dieta rica em fibras e vegetais, a inflamação no hipotálamo diminui e os neurônios se recuperam. O que não pode acontecer é a dieta obesogênica se tornar frequente, pois isso leva a um aumento gradativo do processo inflamatório”, disse o pesquisador.

A alimentação desbalanceada vai modificando uma série de parâmetros metabólicos, favorecendo o desenvolvimento de diabetes e hipertensão. Nesse contexto, explicou Velloso, surge a alteração da microbiota intestinal que, por sua vez, contribui tanto para o agravamento da obesidade como das doenças a ela associadas.

Segundo Velloso, estudos de outros grupos mostraram que uma dieta rica em carboidratos simples, como os presentes no açúcar e na farinha branca, também podem elevar os níveis de lípides no sangue e, de forma indireta, promover inflamação no hipotálamo.

“Ao comparar os dois tipos de dieta, porém, os pesquisadores concluíram que os resultados são piores quando há consumo excessivo de gordura saturada”, disse Velloso.

A principal fonte de gordura saturada da dieta humana são os alimentos de origem animal, como carnes gordurosas, manteiga e laticínios. Mas esse nutriente também está presente no óleo e derivados de coco e no óleo de dendê, assim como em diversos produtos industrializados, inclusive biscoitos, sorvetes, bolos e tortas.

Neurogênese

De acordo com Velloso, trabalhos recentes sugerem que é possível promover a neurogênese no hipotálamo, ou seja, estimular o surgimento de novos neurônios POMC como uma tentativa de combater a obesidade. Mas, por enquanto, trata-se apenas de uma possibilidade experimental, testada em roedores de laboratório. Ainda são necessárias muitas pesquisas para entender como o processo de diferenciação celular pode ser controlado.

“Estamos na fase de entender como funcionam as células precursoras dos neurônios, um tipo de célula-tronco que existe no cérebro. Precisamos descobrir quais fatores precisam ser ativados para desencadear o processo de neurogênese. É um passo inicial, mas pode no futuro ser uma solução terapêutica para a obesidade”, disse Velloso.

Ilustração:  Fábio Otubo

Produzir comida para promover saúde

Realizada entre os dias 18 e 22 de setembro, a FAPESP Week Nebraska-Texas tem como objetivo fomentar a colaboração entre cientistas do Brasil e dos Estados Unidos.

Na manhã desta terça-feira, logo antes da palestra de Velloso, o pesquisador norte-americano Andrew Benson apresentou o escopo do The Nebraska Food for Health Center, criado há cerca de um ano com o objetivo de desenvolver novos alimentos capazes de promover saúde agindo principalmente sobre o microbioma intestinal.

“Nosso sistema de produção de alimentos atualmente está preocupado em reduzir custos, aumentar produtividade, usar recursos de forma eficiente e outros fatores. Mas a preocupação com a saúde aparece apenas no que se refere à segurança. Ou seja, o sistema está preocupado em não matar as pessoas e não em promover a saúde. Precisamos mudar esse paradigma”, disse Benson.

A ideia, segundo o pesquisador, é estudar a diversidade genética de culturas locais, principalmente soja, feijão e outros grãos, para identificar componentes presentes nesses alimentos que são capazes de influenciar de forma benéfica o perfil de bactérias do intestino. No futuro, os compostos mais promissores poderão ser isolados e acrescentados a outros tipos de alimentos industrializados.

Essa abordagem poderia, na avaliação de Benson, auxiliar no combate a doenças metabólicas, autoimunes, cardiovasculares, câncer, doenças inflamatórias intestinais e até mesmo doenças neurológicas e pulmonares.

“Temos um planejamento para os próximos 10 anos. Nos primeiros cinco, estaremos focados em nossas culturas e doenças locais. Já na segunda metade abordaremos o problema de forma global e para isso vamos precisar de parceiros internacionais”, ressaltou.
http://agencia.fapesp.br/estudo_feito_na_unicamp_permite_tracar_o_roteiro_da_obesidade/26184/

Transformação é destaque na Cifras & Letras, da Folha de S.Paulo

Livro descreve mudanças no marketing trazidas pela digitalização; veja lançamentos

FILIPE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

26/08/2017  02h00

O Cifras & Letras seleciona semanalmente lançamentos nacionais e internacionais na área de negócios e economia.

Um dos destaques da semana é “Marketing 4.0”, em que Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawa analisam a mudança que a internet causou no marketing.

Já em “Transformação”, o executivo Mario Grieco conta como, no final dos anos 1990, mudou a trajetória da unidade brasileira da farmacêutica Bristol-Myers Squibb, em crise devido à concorrência com medicamentos genéricos.

Veja outros títulos abaixo:

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/08/1913182-livro-descreve-mudancas-no-marketing-trazidas-pela-digitalizacao-veja-lancamentos.shtml

Transformação é destaque no DCI