Liderança

Inúmeras pesquisas têm sido feitas sobre o comportamento organizacional e a psicologia industrial. Todas demonstram que a cultura da empresa é um reflexo da própria liderança. Isto tem um impacto significativo nos resultados do negócio, especialmente na área de Vendas. Infelizmente, é muito comum uma liderança baseada no controle exacerbado e no microgerenciamento, fazendo com que os colaboradores sejam vistos como irresponsáveis,  necessitando de supervisão constante. Esses líderes acreditam que os seus funcionários não são dedicados, não desempenham suas tarefas com o potencial máximo e estão sempre prontos para sair cedo do trabalho, ou seja, totalmente descomprometidos.  Esta é a cultura do “chicotinho”, como costumo defini-la.

Conheci um gerente de Vendas que era fã incondicional deste tipo de liderança. Exercia uma pressão violenta sobre os funcionários, para que atingissem os resultados. Havia tanta pressão e ameças que o clima da equipe era de terror e estresse constante. Como todos necessitavam do emprego, ninguém reclamava; apenas sofriam. Esse líder tinha o poder da posição, porque era respeitado pelo cargo que exercia, da mesma forma que ocorre com um sargento do exército. Inicialmente, os resultados foram bons, mas, com o passar do tempo, as Vendas começaram a cair. E, quanto mais caíam, mais pressão ele colocava sobre a equipe. Num determinado momento, a equipe não aguentou mais e ‘implodiu’. Todos, sem exceção, pediram demissão. O gerente acabou demitido. É obvio que isto aconteceria.

Este é o tipo de liderança imediatista, que funciona apenas por um curto período de tempo, já que ninguém aguenta pressão o tempo todo. Eu considero esta liderança tóxica, negativa, pois gera insegurança e baixa autoestima em toda a organização. Como nada pode ser feito sem a autorização do líder, a sua ausência causa uma paralisia organizacional geral. Tudo passa a depender da chefia e a sua falta faz com que ninguém se arrisque a tomar iniciativas. Assim, o feedback e a criatividade são totalmente ignorados.

Há outro tipo de liderança que, a meu ver, é muito mais eficaz. Falo da liderança baseada na confiança, na delegação e liberdade com responsabilidade. O líder possui poder, não por causa da posição que ocupa, mas em função da sua atuação e do exemplo que dá. Ele é repeitado pela pessoa que é. Neste modelo de gestão, os colaboradores  são vistos como indivíduos únicos, inteligentes, criativos, que, se receberem apoio, treinamento e encorajamento, darão o melhor de si à empresa. Esta é a cultura na qual eu acredito, por basear-se no respeito aos colaboradores. E, também, permite a formação de equipes mais coesas, mais focadas e comprometidas com o sucesso da empresa. A criatividade é um exercício praticado constantemente, onde inúmeras ideias são desenvolvidas e implementadas – com isso, melhores resultados são obtidos!

Quanto mais confiança no time, mais o líder delega. Como líder, ele vai poder se dedicar aos aspectos mais importantes do negócio, ou seja, planejamento, desenvolvimento e treinamento, e terá, inclusive, mais tempo para se dedicar a seus hobbies e familiares.

Quero ressaltar que este modelo requer um comportamento impecável por parte dos colaboradores, em especial dos vendedores, que têm uma rotina diária muito mais flexível e pouco controlável, uma vez que passam a maior parte do tempo trabalhando na rua ou em casa. Por isso, reforço: maturidade profissional, seriedade e dedicação são atitudes que não podem faltar para vendedores que querem construir e consolidar carreiras de sucesso.

Delegar não é fácil, no entanto. Muitos acreditam que o líder delega por não gostar de se envolver com detalhes ou por não querer saber dos problemas do dia a dia da empresa. Ledo engano – a responsabilidade do negócio continua sempre com o líder. É ele que vai responder se as coisas não estiverem indo bem ou por qualquer outro problema mais sério causado por um dos seus colaboradores.

Quando atuei em Porto Rico como Gerente Geral, dava muita liberdade ao meu time de Marketing. Entre as inúmeras ideias que surgiram, uma eu deleguei totalmente, pois tinha muita confiança em meu Diretor de Marketing. Como todos sabem, a propaganda de medicamentos é rigorosamente controlada pelos órgãos de fiscalização dos Estados Unidos, assim como de Porto Rico. O fato é que fui tomado de surpresa ao ouvir, a caminho do aeroporto, uma propaganda no rádio sobre um dos nossos medicamentos, algo totalmente proibido pela FDA (Food and Drugs Administration, a agência regulatória norte-americana). Imediatamente, liguei para o Diretor de Marketing, que me assegurou estar tudo OK. Duas semanas mais tarde, a FDA multou a empresa por conta da gravidade da situação. Não preciso detalhar muito a difícil situação em que fiquei. Não importa o que foi feito e quem fez, quem responde legalmente é sempre o líder da companhia. Esta foi uma situação bastante delicada, que me ensinou várias coisas. Portanto, muito cuidado ao delegar!

Do mesmo modo, um vendedor de sucesso é, acima de tudo, um líder, porque inspira confiança. Acredito que o verdadeiro vendedor de sucesso tem um magnetismo pessoal e autoconfiança para convencer os seus clientes e dizer: “Sigam-me”. E, assim, conquistar por longo prazo a satisfação deles. Esta confiança só se obtém com a certeza  de poder entregar um serviço de qualidade aos clientes. Se isto acontecer, os seus clientes vão passar a te seguir. Criar confiança significa criar liderança!

Quando me perguntam o que é liderança, sempre digo que não existe uma definição absoluta. Há diferentes estilos, modelos e aplicações. Engana-se quem a associa apenas à alta gestão. Todos devem exercer papéis de líderes em suas posições, principalmente aqueles que estão na área comercial.

O conceito de liderança em Vendas significa ter uma visão clara da realidade, ser confiante, traçar metas realistas, superar adversidades e, acima de tudo, motivar os clientes a comprar. Assim como as técnicas de Vendas variam de acordo com o estilo social do cliente, o mesmo se aplica em relação ao estilo da liderança. Um vendedor recentemente contratado vai necessitar de um estilo de liderança totalmente diferente do estilo de um vendedor sênior. E um bom líder vendedor sabe perfeitamente como se adaptar às diferentes personalidades de seus clientes.

Algumas características estão sempre presentes no líder vendedor:

  • Auto-conhecimento – Vendedores líderes têm consciência de quem são, do que sabem e o que podem fazer com o conhecimento para motivar seus clientes a comprar.
  • Aperfeiçoamento– Vendedores líderes sabem que precisam de um bom orientador ou coach para ajudá-los a melhorar suas técnicas de venda, estilo social, e suas qualidades, tornando-se mais efetivos e eficazes.
  • Decisão – Este é um aspecto importante do líder vendedor. Tomar uma decisão que seja correta não é tarefa fácil, principalmente sob condições de pressão ou estresse.
  • Comunicação – Não existe um bom líder vendedor que não seja um bom comunicador.
  • Saber ouvir –Ouvir atentamente o que o cliente tem a dizer e aceitar genuinamente o seu feedback é a melhor forma de saber se o seu trabalho está sendo produtivo para o cliente.
  • Proatividade – É outra característica essencial do vendedor líder. Ele não precisa esperar as ordens para fazer o seu trabalho. Ele sabe o que fazer e vai sempre procurar ser produtivo em qualquer situação que se encontrar.
  • Visão –O líder vendedor consegue enxergar além dos limites.

 

Credibilidade

Clientes são bombardeados diariamente por centenas de mensagens de Marketing, vindas não apenas de vendedores, mas, também, mediante malas-diretas, e-mails, anúncios em revistas, propagandas em rádio, televisão e por telefone. E isso, por si só, contribui para criar certa resistência do cliente ao vendedor.  Por isso, a cada dia, fica mais difícil atravessar esta barreira e conseguir a atenção do cliente, especialmente daqueles que têm uma ideia negativa a respeito do trabalho em Vendas. Sentem-se desestimulados por vendedores não profissionais, que os fazem perder tempo, tornando o relacionamento totalmente infrutífero. Exemplo disso é o vendedor de carro usado. Se você entrar numa loja de veículos usados, é quase certo que vai sair de lá dirigindo um deles. Infelizmente, esta reputação deve-se a uma minoria que tem como lema: “Se o cliente entrar na loja, não vou deixá-lo sair sem um carro, seja bom, seja ruim, ele vai sair com um carro!”.

Conheci uma revenda de automóveis usados que utilizava um truque para conseguir clientes. O vendedor procurava um nome qualquer na lista telefônica, ligava para a pessoa e dizia: “Senhor Santos, aqui quem fala é o João, da Revenda de carros usados. Estou ligando para informar que o senhor foi sorteado na nossa rifa e acabou de ganhar uma garrafa de vinho. Passe por aqui para receber o seu prêmio”. Mas nunca informavam que, para levar a garrafa de vinho, o incauto teria que fazer um test drive de alguns carros usados. Não estou aqui criticando os vendedores de carros usados, pois conheço muitos que são excelentes profissionais. O meu ponto é que, se você vende carros, fale sobre carros; se você vende vinho, fale sobre vinho. Faz sentido comprar este ou aquele carro, com esta ou aquela característica, mas fique atento a esta pegadinha do mercado. Se para utilizá-la vai colocar a sua credibilidade em risco, esqueça. Não vale a pena. Usar truques ou táticas ardilosas para vender um produto não é uma boa estratégia, pois quando as vítimas descobrem que foram enganadas espalham a noticia e o resultado final é sempre péssimo.

A chave para se destacar no meio da multidão, para obter atenção e ganhar respeito do cliente, é justamente estabelecer a credibilidade. E, talvez, a melhor maneira de ganhar credibilidade seja posicionar a si mesmo e a empresa que representa como um recurso educacional e valioso. Cultura e conhecimento são geralmente bem vistos e valorizados por todo o mundo. E com os clientes não é diferente. Eles reagem positivamente ao representante que tem conhecimentos e que é capaz de partilhá-los durante a visita de Vendas. Um bom vendedor sabe como transmitir o seu conhecimento, comunicando-o primeiro e vendendo depois.

Alguns cuidados devem ser tomados na hora de transmitir informações:

  • Nunca se posicione como um professor. Clientes odeiam sentir-se como se fossem estudantes, tendo a impressão de que o vendedor quer lhes ensinar algo que faz parte do seu dia a dia. A melhor estratégia é o oposto: deixe o cliente se sentir como se ele fosse o professor e você como um estudante fazendo perguntas e procurando a sua ajuda.
  • Não converse com o cliente em tom de superioridade ou como se você fosse o único detentor da informação. Mesmo que seja assim, humildade é importante para se conquistar o cliente.
  • Seja sempre objetivo e vá direto ao ponto. Nunca informe algo que seja duvidoso e que não tenha certeza absoluta.
  • As informações devem sempre ser apresentadas de forma direta, sem rodeios e redundância. Valorize o tempo que o seu cliente está disponibilizando para você. Tempo é dinheiro, tanto para você como para ele.
  • Não utilize informações pré-fabricadas, ou seja, a mesma apresentação para todo mundo. Respeite a individualidade do seu cliente, procurando customizar a apresentação com base nas necessidades, interesses e preocupações de cada um deles.
  • Tome cuidado ao falar sobre assuntos que você não conhece. É melhor ficar de boca fechada. Não pense que pode enganar ou “enrolar” o seu cliente. Provavelmente, você não vai conseguir e, o que é pior, parecerá ignorante e mentiroso, fazendo com que perca a sua credibilidade.
  • Diga sempre a verdade. Se desconhecer a resposta a uma pergunta, admita que não tem a informação solicitada. Não tem nada de errado dizer que não sabe. O mais importante é você procurar a resposta e dar um retorno o mais breve possível.
  • Se você conseguir ser uma fonte de informação e credibilidade, não tenha a menor dúvida de que vai ter muito sucesso em  atingir todos os seus resultados de Vendas.

Outros detalhes que são importantes na construção da credibilidade:

– Boas maneiras e postura adequada

– Pontualidade

– Falar corretamente

– Confiança

– Integridade

– Conhecimento de seus produtos ou serviços

– Informações atualizadas

– Organização

– Comunicação efetiva

– Empatia

Em minhas palestras, frequentemente comparo Vendas com Guerra. Isso porque ambas necessitam de muito planejamento, sempre há um vencedor e um perdedor, necessitam de munições, de liderança, e assim por diante. Saliento, contudo, que Vendas tem algumas vantagens sobre a Guerra: ninguém morre e você pode trocar de time. Se você estiver trabalhando em uma empresa que não tem o seu padrão ético de conduta, pode e deve mudar de empresa o mais rápido possível, simplesmente porque é a sua carreira que está em jogo. Credibilidade é algo que não se deve comprometer nunca!

Meu primeiro post Blog Dr. Mario

Médico com pós-graduação pela Universidade da Flórida e Mestrado em Administração de Empresas, Mário Grieco acumula mais de 20 anos de experiência em gestão e liderança no setor farmacêutico, tendo iniciado sua carreira na indústria como gerente médico da Bayer.