Cardio Gene

Testes cardiogenéticos que ajudam a determinar a dose certa do Clopidogrel começam a ser produzidos no país e ficam mais acessíveis

Variações na atividade da enzima CYP2C9, responsável pela metabolização do fármaco, faz com que o produto não seja absorvido de forma regular por 30% dos mais de 400 mil pacientes que utilizam o produto no país

 

O Clopidogrel é um dos principais casos de sucesso do mercado de medicamentos genéricos. Desde que o produto referência, o Plavix (Sanofi), perdeu sua patente, em 2006, o consumo do medicamento em volume cresceu 565% em 10 anos, de acordo com os dados IMS Health, instituto que audita as vendas do setor farmacêutico.

Indicado para prevenir a formação de coágulos em pacientes que tiveram Infarto do Miocárdio ou Acidente Vascular Cerebral recente, é um dos principais produtos em vendas de sua classe terapêutica. No ano passado, foram comercializadas 4.901.504 milhões de unidades de Clopidogrel (caixinhas). Por ser tomado em uma dose diária, é possível aferir que 408.458 mil pacientes fizeram uso do produto em 2016 no país.

O problema é que aproximadamente 30% destes pacientes estão correndo sérios riscos por conta de variações na atividade da enzima CYP2C9, responsável pela metabolização do medicamento. Quando ela ocorre de forma lenta, pode causar trombose nas artérias coronarianas, derrames e até a morte do paciente. Se a metabolização é muita rápida, o risco é de sangramentos.

As primeiras informações que deram conta deste desvio de padrão no funcionamento do produto saíram de um estudo de metanálise publicado pelo jornal da Associação Médica Americana (JAMA) em 2010, contabilizando nove pesquisas independentes com 10 mil pacientes analisados.

Desde então, o FDA, órgão responsável pela vigilância sanitária nos Estados Unidos, determina que a bula desse tipo de medicamento deve orientar os médicos a recomendarem testes cardiogenéticos aos pacientes que precisam utilizar o medicamento. O cardiogenético é um teste farmacogenético que analisa a resposta das pessoas aos medicamentos, ao detectar a existência ou não de variações e quais são elas, se existirem, garantindo, assim, tratamento eficaz. A mudança foi incorporada como nova diretriz pela sociedade americana de cardiologia.

No caso dos pacientes com metabolização lenta, os estudos comprovaram que há absorção em média 32,4% menor do Clopidogrel apresentando risco aumentado de 53% de morte por eventos cardiovasculares e aumento de 3 vezes no risco de trombose para pacientes com stent. Há também aumento considerável nos efeitos colaterais causados pela droga. Por outro lado, pacientes com metabolização ultrarrápida correm sérios riscos de sangramento após 30 dias de utilização do produto.

Outro estudo, o Triton Timi 38, de 2009, randomizou 13.608 pacientes divididos entre os que receberam o Clopidogrel e o Prasugrel, constatando que o segundo medicamento reduz significativamente o número de eventos isquêmicos cardiovasculares. Dado o alto custo de Prasugrel em relação ao Clopidogrel, a realização do teste cardiogenético é recomendada nos Estados Unidos para triagem dos pacientes que utilizar o produto.

 

Cenário

Enquanto quase 100% dos médicos americanos recomendam o teste como forma de se precaver contra eventuais ações de indenização em caso de problemas futuros, no Brasil o teste ainda é pouco indicado. “Pelo fato de até então serem importados, eram pouco acessíveis para a maioria absoluta dos pacientes”, explica o médico Mario Grieco, CEO do Life Grupo, a primeira empresa nacional a realizar esse procedimento no Brasil por meio da Life Diagnósticos, sua unidade de negócio especializada em Medicina Personalizada.

Grieco, que tem longa trajetória na indústria farmacêutica, tendo sido presidente da Bristol-Myers Squibb, entre outras multinacionais, estima que menos de 5% dos 408.458 mil pacientes tenham realizado o procedimento no Brasil. “Especialistas da Faculdade de Medicina da USP e do Incor, os médicos Elias Ascer e Luís Antônio Machado César, já conduziram estudos clínicos comprovando a necessidade dos testes para prevenção de riscos em pacientes que utilizam o medicamento, mas o acesso ao procedimento sempre foi restrito”, observa.

Nos EUA, o teste faz parte faz parte do protocolo de atendimento de clínicas e hospitais, pontua Grieco. “Apesar de conseguirmos realizar o teste no Brasil por um preço bem mais acessível do que o oferecido pelas importadoras, boa parte da população ainda sofre com o fato de que não é coberto pelo SUS e não está no Rol de Procedimentos da ANS, ou seja, também não é coberto pela maioria dos planos de saúde. Trata-se de uma pauta relevante do ponto de vista de saúde pública, considerando o número de pessoas que utilizam esse medicamento”, analisa Grieco.

Os testes oferecidos pela Life Diagnósticos custarão aproximadamente R$ 500 e poderão ser sugeridos pelos próprios médicos aos seus pacientes. Com objetivo de informar os profissionais sobre a oferta dos testes “nacionalizados”, a empresa inicia em março uma forte campanha voltada para cardiologistas. “O valor do teste, considerando que é feito uma vez apenas, é bastante razoável. Porém, o mais importante é que ele salva vidas”, argumenta Grieco.

 

Sobre a Life Grupo

Fundado em 2013 por Mario Grieco, o Grupo tem um modelo de negócio inovador ao atuar em diversos segmentos oferecendo um portfólio extenso de produtos e serviços voltados para a área da saúde. Esse modelo é fruto do espírito empreendedor e da experiência de seu fundador, que atuou por mais de 30 anos na indústria farmacêutica, liderando equipes e empresas de grande porte. A Life Grupo já recebeu mais de R$ 30 milhões em investimentos desde a sua fundação, alcançou o break-even-point e tem mostrado expressivos índices de crescimento nas receitas, que devem subir em torno de 30% este ano. Em 2016, cresceram 20%.

O Grupo é formado por unidades de negócios e duas empresas. São unidades a Life Diagnósticos, divisão especializada em Medicina Personalizada que abriga um laboratório de testes genéticos e farmacogenéticos, além de fornecer produtos e serviços de alta tecnologia para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças; a Life Farmacêutica, especializada em desenvolvimento, lançamento e promoção de medicamentos; a Life Publicidade, especializada no desenvolvimento de campanhas publicitárias para o setor de saúde; a Life Distribuidora, especializada na promoção e vendas de produtos farmacêuticos; e a clínica de reprodução humana Chedid Grieco, que possui um avançado laboratório genético.

As empresas que completam o Grupo são a Vida, especializada na importação e distribuição de cosméticos, e a Saúde, especializada na importação e distribuição de máquinas e equipamentos médico-hospitalares. O Life Grupo também mantém uma filial em Miami (EUA) para apoiar as atividades da empresa no Brasil.

 

Informações para a imprensa:

Vital Agência

Fábio Pimentel – fabio.pimentel@vitalagencia.com – 11 9 3806 0617

Iolanda Nascimento – iolanda.nascimento@vitalagencia.com – 11 9 3800 5890

 

 

Estadão

Medicina personalizada avança no País

Testes farmacogenéticos conseguem precisar se medicamento será eficaz para determinado paciente e apontar dosagem ideal

Na maioria das vezes, os testes avaliam variações nas atividades enzimáticas e determinam se aquele medicamento que o médico prescreveu para o paciente vai funcionar corretamente ou não. Em outros casos, como no tratamento de câncer, por exemplo, o paciente já toma determinada droga e o teste vai avaliar mutações daquele tumor e indicar a probabilidade de ele responder ao tratamento da maneira esperada.

Existem testes para análise da eficácia de diversos medicamentos, passando pelos psiquiátricos, dermatológicos e oncológicos. Nos últimos anos, a cardiologia é que está ganhando espaço tanto para a identificação de possíveis mutações genéticas que possam causar doenças, quanto para a avaliação se determinada droga fará efeito ou não no paciente.

De olho nesse mercado, o médico Mário Grieco, ex-presidente da farmacêutica Bristol no Brasil, fundou a Life Diagnósticos e trouxe para o Brasil o teste cardiogenético para analisar o metabolismo da enzima CYP2C19 e a resposta do organismo do paciente ao medicamento Clopidogrel – uma droga de antiagregação plaquetária, usada para afinar o sangue e impedir a formação de trombos. Esse é um dos remédios mais utilizados em pessoas com doenças coronarianas, que possuem stents (dispositivos para manter os vasos sanguíneos desobstruídos), ou que sofreram um AVC.

Em cerca de dois anos de existência, a Life já realizou cerca de 5 mil exames genéticos para análise da CYP2C19, tudo dentro do Brasil, em laboratório próprio. Cada exame custa R$ 500. “A CPY2C19 é a enzima específica para metabolizar esse remédio. Se a pessoa tiver o metabolismo normal, está tudo bem. O problema ocorre quando a metabolização é lenta demais ou ultrarrápida. Quanto antes você identificar esse problema, melhor será para o paciente”, afirma Grieco, que tem realizado um trabalho de apresentação dos benefícios do teste para os médicos.

“Nos Estados Unidos o teste farmacogenético do Clopidogrel já é realizado de rotina e consta, inclusive, indicação de fazê-lo na bula do medicamento. Por que não deixar isso acessível no Brasil também? É isso que busca a medicina do futuro”, diz Grieco.

Segundo Jeane, pesquisas recentes apontam que doenças cardíacas também podem estar associadas a mutações genéticas. Assim, o Fleury mapeou as principais mutações genéticas associadas a doenças cardíacas hereditárias e lançou recentemente um portfólio que contempla a análise de 13 painéis genéticos para a área de cardiologia, englobando doenças como: colesterol alto (hipercolesterolemia), arritmias hereditárias, cardiomiopatias hereditárias e síndromes raras.

“São doenças hereditárias e com risco maior de complicações, como um enfarte. Por meio do teste, é possível fazer um diagnóstico mais rápido e um tratamento mais preciso”, afirma Jeane, que também realiza assessoria para levar esse tipo de informação aos médicos.

O preço dos testes, explica Jeane, varia dependendo do tipo de tecnologia que será usada, se será avaliada apenas uma mutação genética ou um painel de mutações, se a análise do teste será feita no Brasil ou no exterior. “Mas gira em torno de R$ 1.000 a R$ 5.000”, afirmou.

Para Riad Younes, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a personalização do tratamento não envolve apenas o medicamento, mas uma série de tecnologias. Para eles, a principal dificuldade é fazer com que essa tecnologia esteja realmente acessível ao paciente. “A tecnologia nos mostra o medicamento certo para a pessoa certa. Mas aplicar isso no Brasil ainda é um problemão. Os doentes não têm acesso e muitos médicos nem sabem que a tecnologia existe”, finalizou.

Tratamento sob medida é tema do Summit Saúde

O tratamento sob medida para pacientes, com diagnósticos cada vez mais precisos e medicamentos personalizados, será um dos temas em debate no Summit Saúde Brasil, evento que o Estado realiza em 14 de agosto, no Sheraton WTC, em São Paulo.

Esse assunto estará em pauta na sessão Medicina Personalizada, com Riad Younes, do Hospital Oswaldo Cruz; Jeane Tsutsui, do Laboratório Fleury; José Eduardo Krieger, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); e Iscia Lopes Cendes, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Medicina Personalizada será um dos oito painéis do Summit, que reunirá especialistas brasileiros e estrangeiros para debater o que há de mais novo em gestão e tecnologia nas áreas de medicina e saúde. O evento é voltado para profissionais do setor, e há desconto para assinantes do Estado. Os ingressos estão à venda no site summitsaudebrasil.com.br.

Pesquisa

Pesquisa revela como o exercício físico protege o coração

19 de julho de 2017

Karina Toledo, em Ribeirão Preto | Agência FAPESP – A prática regular de atividade física tem se firmado como uma importante forma de tratamento para a insuficiência cardíaca – doença caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue adequadamente.

Os benefícios vão desde prevenir a caquexia – perda severa de peso e massa muscular – até o controle da pressão arterial, a melhora da função cardíaca e o retardo do processo degenerativo que causa a morte progressiva das células do coração e leva à morte 70% dos afetados pela doença nos primeiros cinco anos.

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Autophagy, ajuda a elucidar parte dos mecanismos pelos quais o exercício aeróbico protege o coração doente.

““Basicamente, o que descobrimos é que o treinamento aeróbico facilita a remoção de mitocôndrias disfuncionais nas células cardíacas”, contou Julio Cesar Batista Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) e coordenador do projeto.

As mitocôndrias são as organelas responsáveis por produzir energia para as células. “A remoção dessas organelas promove um aumento na oferta de ATP [adenosina trifosfato, molécula que armazena energia para a célula] e reduz a produção de moléculas tóxicas, como os radicais livres de oxigênio e os aldeídos reativos, que em excesso danificam as estruturas celulares”, acrescentou.

Segundo o pesquisador, o objetivo da pesquisa no longo prazo é identificar alvos intracelulares que podem ser modulados por meio de fármacos para promover pelo menos parte dos benefícios cardíacos obtidos com a atividade física.

“Claro que não queremos criar a pílula do exercício, isso seria impossível, pois ele atua em muitos níveis e em todo o organismo. Mas talvez seja viável, por meio de um medicamento, mimetizar ou maximizar o efeito positivo da atividade física no coração”, comentou Ferreira.

O trabalho de investigação vem sendo conduzido durante o mestrado e o doutorado de Juliane Cruz Campos, bolsista da FAPESP e orientanda de Ferreira.

Em uma pesquisa anterior, publicada na revista PLoS One, o grupo mostrou por meio de experimentos com ratos que o treinamento aeróbico reativa um complexo intracelular conhecido como proteassoma – principal responsável pela degradação de proteínas danificadas.

Os resultados mostraram ainda que, no coração de portadores de insuficiência cardíaca, a atividade desse sistema de limpeza diminui mais de 50% e, consequentemente, proteínas altamente reativas começam a se acumular no citoplasma, interagindo com outras estruturas e causando a morte das células cardíacas.

No trabalho recém-publicado, que foi destaque na capa da revista, o grupo revelou que a atividade física também regula a atividade de outro mecanismo de limpeza celular conhecido como sistema de autofagia – cuja descoberta rendeu o Nobel de Medicina ao cientista japonês Yoshinori Ohsumi, em 2016.

“Em vez de degradar proteínas isoladas, esse sistema cria uma vesícula [autofagossomo] em volta de organelas disfuncionais e transporta todo esse material de uma só vez até uma espécie de incinerador, o lisossomo. Lá dentro, existem enzimas que destroem o lixo celular. No entanto, observamos que no coração de ratos com insuficiência cardíaca esse fluxo autofágico está interrompido, o que faz com que mitocôndrias disfuncionais comecem a se aglomerar”, explicou Ferreira.

De acordo com o pesquisador, a organela chega a se dividir, isolando a parte danificada para facilitar sua remoção. Isso foi possível constatar ao analisar a atividade de proteínas relacionadas com o processo de divisão mitocondrial. Porém, o sistema que deveria transportar o material rejeitado até o lisossomo não consegue completar a tarefa.

Experimentos

O modelo experimental usado foi o mesmo da pesquisa anterior, que consiste em amarrar uma das artérias coronárias do roedor para induzir um infarto no miocárdio. A falta de irrigação sanguínea causa a morte imediata de aproximadamente 30% das células cardíacas. Após um mês, o animal já apresenta sinais de insuficiência no órgão.

Ao analisar o tecido do coração doente por meio de microscopia eletrônica, capaz de aumentar a imagem em até 3 mil vezes, os pesquisadores notaram que nas células havia uma grande quantidade de mitocôndrias de tamanho reduzido e aglomeradas – algo que não foi observado no coração de animais sadios.

Essas organelas foram colocadas em um equipamento capaz de medir o consumo de oxigênio e, assim, avaliar o metabolismo mitocondrial. O teste confirmou que não estavam respirando como deveriam.

“As imagens mostravam que havia membranas tentando se formar em volta dessas pequenas mitocôndrias, mas o autofagossomo não chegava a envolver a organela de fato. Imaginamos então que elas estavam se acumulando porque o sistema de remoção não estava funcionado e, quando colocamos os animais para se exercitar, essas organelas disfuncionais desapareceram. O exercício restaurou o processo de remoção das mitocôndrias cardíacas disfuncionais. Os benefícios do exercício foram abolidos quando bloqueamos farmacologicamente ou geneticamente a autofagia”, contou Ferreira.

O treinamento dos animais teve início quatro semanas após a indução do infarto, quando eles já apresentavam sinais de insuficiência. Os roedores eram colocados em uma esteira para correr a uma intensidade considerada moderada (70% da capacidade máxima de corrida), durante 60 minutos, uma vez ao dia, cinco vezes por semana, por oito semanas.

Ao final, os resultados eram comparados com o de animais com insuficiência que permaneceram sedentários pelo mesmo período e também com o de animais sadios (que não tiveram infarto induzido) e sedentários (controle).

“No animal doente que permaneceu sedentário, a função cardíaca ao longo das oito semanas caiu 30%, enquanto no grupo treinado ela aumentou 40% em relação à condição pré-treino. No fim, portanto, a diferença na função cardíaca nesses dois grupos foi de 70%”, contou Ferreira.

Enquanto o coração dos ratos doentes sedentários estava em média 18% maior que o grupo-controle, o dos animais treinados aumentou apenas 5%.

“Vale lembrar que o exercício físico também induz um aumento no tamanho do coração, mas relacionado ao ganho de função. Já a dilatação causada pela insuficiência cardíaca está relacionada à perda de função no órgão”, disse o pesquisador.

Já o nível de ATP dos animais doentes sedentários foi 50% menor que o do grupo-controle, enquanto nos animais treinados foi equivalente ao do coração saudável.

“Nossos resultados mostram, portanto, que a atividade física não só previne como também reverte os danos causados pela insuficiência cardíaca. Nossa hipótese é que o treinamento físico module a expressão e/ou atividade de uma ou mais proteínas-chave envolvidas no processo denominado “mitofagia”, a autofagia mitocondrial, restaurando então sua atividade. É o que agora estamos tentando descobrir”, comentou Ferreira.

De acordo com o pesquisador, quando identificados, esses genes e as proteínas por eles codificadas poderiam ser testados como alvos terapêuticos.

Um modelo mais simples

Como explicou o professor do ICB-USP, descobrir o impacto de cada gene/proteína nas adaptações cardíacas decorrentes da atividade física em um organismo complexo como o de mamíferos seria uma tarefa exaustiva – virtualmente impossível. Por esse motivo, nos trabalhos em andamento, o grupo tem usado como modelo vermes da espécie Caenorhabditis elegans.

“São organismos menos complexos, mas cujo genoma se assemelha ao humano em até 90% para algumas famílias de proteínas. Além disso, já existem ferramentas, como a genômica funcional, que permitem avaliar em larga escala a contribuição de cada gene na resposta adaptativa perante condições adversas. A idéia é caracterizar o impacto funcional dos genes envolvidos nos processos de divisão mitocondrial e mitofagia nas adaptações decorrentes do exercício físico”, contou o pesquisador.

O desafio agora, disse Ferreira, é validar uma metodologia que permita colocar os vermes para treinar.

O artigo Exercise reestablishes autophagic flux and mitochondrial quality control in heart failure pode ser lido em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28598232.
http://agencia.fapesp.br/pesquisa_revela_como_o_exercicio_fisico_protege_o_coracao/25695/

Saúde

Brasil é exemplo de acesso universal a medicamentos de ponta para HIV

Publicado em 
Conheça a história de Welber, de 23 anos, de Ribeirão Preto, que descobriu que vivia com HIV no final do ano passado, um dia após o Natal. Após os temores iniciativas, o jovem descobriu que, com a terapia antirretroviral, ele conseguiria enfrentar o vírus. O Brasil investe 1,1 bilhão de reais no fornecimento do tratamento e adota procedimentos e medicamentos modernos para o HIV na rotina do SUS.

As festas que marcaram a virada de 2016 para 2017 tiveram um gosto amargo para Welber Moreira. O jovem de 23 anos descobriu um dia depois do Natal que estava vivendo com o HIV.

Ele conta que se sentiu doente e procurou uma clínica de saúde pública para obter respostas. O médico lhe fez uma pergunta que pegou o jovem de surpresa. “Ele me perguntou: ‘Posso ver seu resultado de teste de HIV mais recente?’”, conta. Welber nunca pensou que um vírus que ele estudou tempos atrás em uma aula de biologia mudaria sua vida um dia.

Foi então que o médico o encaminhou a um dos centros públicos de aconselhamento e testagem de sua cidade natal, Ribeirão Preto, no norte de São Paulo. No local de atendimento, o rapaz fez um teste rápido de HIV. Seu diagnóstico positivo foi confirmado por um segundo exame.

“Chorei pra caramba na frente dela (a enfermeira) e ela falou ‘calma, não é assim!’. Mas eu não via uma saída. Eu achava que eu ia morrer, não conhecia sobre a doença, não sabia como era o tratamento, eu só sabia que HIV era AIDS e AIDS matava. E a AIDS ia me matar e eu ia ficar doente, e ia ficar na cama, ia ficar fedendo, ia depender das pessoas e ninguém ia me amar mais”, lembra Welber sobre o momento do diagnóstico.

“E eu assim, em desespero: eu tenho uma namorada e estava junto com ela quando eu descobri. Eu tinha que informar a ela que eu estava com HIV porque a gente tinha relação sexual sem camisinha.”

Sua namorada teve resultado negativo para o HIV. Ela começou a tomar a profilaxia pós-exposição — ou PEP, um tratamento de prevenção de 28 dias —antes mesmo de Welber começar a terapia com antirretrovirais.

Mas algo mais o deixou preocupado. “Eu estava muito assustado e com medo dos efeitos colaterais”, afirma. Surpreendentemente, o jovem se sentiu bem desde o início do tratamento. Agora, antes de ir para a cama, ele toma duas pílulas à noite. “Não consigo imaginar como era no passado, ter que tomar várias pílulas por dia em momentos diferentes e com efeitos colaterais desagradáveis.”

Welber está entre os mais de 100 mil brasileiros que irão iniciar este ano o tratamento com um novo medicamento contra o HIV. Chamado dolutegravir (DTG), o remédio tem menos efeitos colaterais e é mais eficaz na supressão viral. No início de 2017, o Ministério da Saúde do Brasil anunciou que negociou com sucesso a compra desse medicamento, obtendo um desconto de 70% — o que reduziu o preço por comprimido de 5,10 dólares para 1,50 dólar.

Como resultado, mais pessoas poderão ter acesso ao dolutegravir dentro do orçamento de 2017 aprovado para o fornecimento de tratamento no país. O montante investido pelo Brasil é de 1,1 bilhão de reais.

Welber é grato pelo apoio que recebeu de sua namorada e pela eficiência da clínica e do centro de atendimento. Isso, segundo ele, o ajudou a superar o trauma inicial. Falar de HIV e revelar sua sorologia não mais incomoda o rapaz. Ele conta que fala abertamente sobre isso para seus amigos e no trabalho. Uma pequena parte de sua família não recebeu muito bem a notícia, mas o jovem não perdeu a esperança.

Ele tem grandes planos com sua namorada. “Nós planejamos ter dois filhos, dentro de três anos”, diz.

Welber também disse sentir que tem que ajudar os outros. “Sempre que posso, por exemplo, eu passo na clínica de saúde local e pego alguns preservativos para os meus colegas do trabalho e meus amigos”, conta. “É uma oportunidade para compartilhar com eles o que eu conheço e falar sobre prevenção.”

A ONU e o combate ao HIV

A história de Welber faz parte de uma série sobre os vínculos entre a epidemia de HIV e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Conheça a série clicando aqui. Entre as metas acordadas pelos Estados-membros da ONU, está a erradicação da epidemia como ameaça de saúde pública até 2030.

A ampliação do tratamento de HIV nos países de baixa e média renda nos últimos 15 a 20 anos é uma das maiores histórias de sucesso da saúde global. Na África Subsaariana, ao final de 2002, apenas 52 mil pessoas estavam sob tratamento. Com o aumento na produção e no uso total das flexibilizações de patentes, o número de indivíduos em terapia cresceu para 12,1 milhões em 2016.

No Brasil, quando o governo concedeu acesso universal aos medicamentos antirretrovirais em 1996, o curso da epidemia a nível nacional mudou, e as taxas de sobrevivência aumentaram notavelmente. Previsões sobre as mortes relacionadas à AIDS em larga escala nunca se concretizaram. O Sistema Único de Saúde (SUS) continua a demonstrar liderança na resposta ao HIV, incorporando nos serviços de rotina as tecnologias médicas e científicas mais avançadas para o tratamento do vírus.

A história de Welber nos diz o quanto o ODS de nº 9 — construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação — está associado à ampliação do acesso equitativo aos medicamentos, bem como ao progresso para acabar com a epidemia de AIDS até 2030.

https://nacoesunidas.org/brasil-e-exemplo-de-acesso-universal-a-medicamentos-de-ponta-para-hiv/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+ONUBr+%28ONU+Brasil%29

Medicina Personalizada: o futuro cada vez mais presente

 

Assim como muitos médicos e executivos das empresas especializadas em saúde, costumo dizer que a Medicina Personalizada é a Medicina do futuro. Ela está lá adiante por vários aspectos, que trataremos a seguir, mas também já está bastante disponível para os pacientes do presente. É crescente o rol de exames de diagnóstico, medicamentos, procedimentos e um enorme aparato de produtos e serviços já disponíveis para atender diversas necessidades humanas individualmente, de acordo com a formação genética de um.

Cabe ressaltar, antes de prosseguir, que Medicina Personalizada é aquela que não se orienta pela média. Até a revolução genômica, decorrente do sequenciamento completo do genoma humano, cientistas e médicos estavam mais preocupados em descobrir soluções para a esmagadora maioria dos problemas baseados na resposta média da população. Não consideravam as variantes individuais que influenciam de sobremaneira a propensão de cada um a doenças, bem como a resposta a tratamentos.

A Medicina Personalizada considera cada pessoa única e a trata como tal, ao analisar o seu código genético, também único, uma vez que todo ser humano tem uma identidade genética própria, que não se iguala a de nenhum outro. Nessa investigação do DNA de cada um, é possível detectar o grau de risco de predisposição a doenças, fundamental na esfera da prevenção; e fazer diagnóstico precoce, o que possibilita tratamentos mais rápidos e economia de recursos públicos ou privados nesse processo. Melhor, garante qualidade de vida aos pacientes.

É possível, ainda, confirmar diagnósticos com precisão; e determinar o medicamento certo e na dose certa individualmente, a partir dos avanços da farmacogenômica, a seara que cuida da terapia medicamentosa personalizada.  A crescente variedade de instrumentos que possibilitam a prática da Medicina Personalizada é resultado de muito investimento, sem o qual não se avança em área alguma, também crescente no setor.

Somente na área de biotecnologia, esse elo fundamental da Medicina Personalizada do futuro e que já é bastante presente também, um estudo da Tufts University, de Boston (EUA), mostra que os investimentos nessa área aumentaram quase 90%, num prazo de cinco anos, entre 2010 e 2015. A pesquisa foi realizada com 16 empresas que atuam com biofármacos e buscam forte posicionamento em farmacogenômica.

São as maiores desse mercado e respondem por parcela significativa, mas o estudo não contempla o cenário completo, o que nos dá a certeza de que os investimentos são muito maiores. Nessa conta não estão, por exemplo, os aportes das empresas de diagnósticos, sejam fabricantes de equipamentos ou prestadoras de serviços de exames laboratoriais. Essas também investem cada vez mais em pesquisa e desenvolvimento com foco na Medicina Personalizada porque a demanda é crescente. É essa procura maior que torna as novas tecnologias cada vez mais acessíveis – regra em qualquer mercado.

O setor de produtos biotecnológicos movimenta mais de US$ 160 bilhões no mundo. No Brasil, em torno de US$ 6 bilhões. E tem avançado significativamente em participação no total do bolo do setor farmacêutico, de mais de US$ 1 trilhão em vendas de medicamentos anuais, em âmbito mundial. Ganha participação e tende a ganhar ainda mais porque é eficaz.

Quando se descobriu mais sobre o genoma humano e a possibilidade de personalizar tratamentos, investiu-se muito em pesquisas especialmente para tratar alguns tipos de câncer e a ciência evoluiu substancialmente nessa área, com as terapias-alvo, que praticamente já dominam esse setor.

A comprovação dos bons resultados dados a cada passo no tratamento de câncer colocou mais empresas e mais cientistas para trabalhar na busca por resultados tão eficientes no combate a outras doenças, que também castigam muito o ser humano e as finanças públicas. Hoje, a Medicina já é bastante personalizada também na neuropsiquiatria, cardiologia, doenças do sistema imunológico, metabólicas, infecciosas e inflamatórias.

Ela é do futuro porque há muito que se investir ainda para abranger o extenso leque de velhos e novos problemas que surgem a cada dia e afetam o ser humano. Há muito o quê se fazer ainda para barateá-la e tornar o que já existe mais acessível. Mas o que já está desenvolvido também não está mais tão caro, como provam os diversos laboratórios especializados em testes genéticos a preços mais populares que vêm sendo criados anualmente no Brasil. Há poucos anos, eles não existiam e muitos testes na área genética só eram realizados em laboratórios no exterior.

 

Saúde

Transtorno disfórico pré-menstrual: a ‘super TPM’ que leva algumas mulheres à internação psiquiátrica