O enterro do “Yo no puedo”
Alguns grandes aprendizados tiramos de experiências marcantes no mundo dos negócios. Comigo não foi diferente. Ao assumir a direção de uma importante companhia farmacêutica, deparei-me com um sério problema: os funcionários, de uma forma geral, tinham por hábito reclamar de tudo.
Diante de qualquer tipo de problema, a reação era sempre passiva e negativa. Em vez de procurarem soluções, contentavam-se em perpetuar os problemas dizendo: “eu não consigo!”. Com isso, não se conseguia atingir os objetivos e metas da companhia. E o pior: criava-se um ambiente extremamente negativo. Porque quando não se acredita em algo, dificilmente obtém-se êxito e se alcança o resultado necessário.
O poder da mente e aquilo que ela projeta altera o desenlace dos eventos, como em um movimento de ação e reação. Você age sobre os eventos antes dos eventos agirem sobre você. Quando se utiliza a palavra “não”, a mensagem que volta ao cérebro é: “não vai dar certo”. Isto faz com que a mente se condicione a não lutar e o resultado é o desânimo total perante o desafio.
E o fazer para mudar essa situação? Como modificar o ambiente de trabalho e, assim, melhorar a produtividade dos funcionários? Com essas perguntas em mente e após alguns meses buscando uma solução, decidi fazer algo muito diferente. Era uma decisão arrojada, com carga significativa de bom humor, que decidi levá-la a cabo.
Convoquei uma reunião geral com todos os funcionários, sem fornecer-lhes muitos detalhes. Informei apenas que era muito importante e obrigatória a presença de todos. Não houve quem não comparecesse. O que já era de se esperar, já que vários boatos começaram a circular, inclusive um que falava que a companhia estava à beira da falência.
No dia marcado, iniciei a reunião explicando a importância de se ter uma atitude positiva frente a adversidades. Expliquei que o objetivo daquele encontro era resolver todos os problemas e situações difíceis, para as quais eles não acreditavam que havia solução. E afirmei que, no final da reunião, tudo seria resolvido.
Pedi a eles que, anonimamente, descrevessem tudo que não conseguiam solucionar ou que achavam ser impossível de atingir. Alguns se utilizaram desta oportunidade para reclamar do excesso de tarefas e a impossibilidade de completá-las em tempo. Outros, entusiasmados com a idéia de ter alguém para resolver todos os seus problemas, preencheram várias páginas. Enquanto descreviam todos os “eu não consigo”, saí da sala. Somente retornei quando todos já haviam terminado e aguardavam ansiosamente pela formula mágica.
Para surpresa geral, voltei vestido de padre e trouxe comigo dois coroinhas carregando um pequeno caixão. Abri o caixão e pedi que cada um colocasse dentro dele todos os “eu não consigo”. Em seguida, orientei que, em silêncio, me acompanhassem. Em forma de procissão, seguimos até o jardim em frente da companhia. Ali havia uma cova, cruz e lápide com os seguintes dizeres: “Aqui jaz ‘Eu Não Consigo’ ”.
“Queridos companheiros, hoje nos encontramos aqui reunidos para nos despedir de quem em vida era conhecido por todos como ‘eu não consigo’. Vamos também aproveitar a ocasião para nos despedir de seus amigos: o ‘eu não posso’, o ‘não vai dar certo’ e todos os outros ‘nãos’ que agora já não têm mais razão de nos visitar. Por muito tempo, eles nos causaram problemas e aborrecimentos, afetaram profundamente nossas vidas, tanto no nível profissional como pessoal. Inúmeras vezes impediram que atingíssemos nossos objetivos, nos desmotivaram e sempre procuravam tornar nossas vidas insuportável. Infelizmente seus nomes foram bastante citados, dentro e fora da companhia e, algumas vezes, inclusive em nossos lares. Felizmente deixou três irmãos: o ‘eu posso’, o ‘eu consigo’ e o ‘eu vou fazer imediatamente’. Estes são bem menos conhecidos do que o irmão falecido mas, certamente, com a nossa ajuda, se tornarão famosos nesta companhia. Que o ‘eu não consigo’ descanse em paz e para sempre”.
Nesse momento, pedi que todos se aproximassem do caixão para a despedida final. Prosseguimos com o enterro, como se fato ele fosse real. Todos ajudaram jogando terra sobre o caixão. Finalmente a lápide foi colocada sobre a cova e assim terminamos a cerimônia.
De lá, seguimos para o refeitório onde estava preparada uma imensa festa. O time estava estarrecido e parecia ter entendido definitivamente a mensagem que pretendi passar. Divertimo-nos muito relembrando cada etapa e cada vez tornava-se mais nítida uma profunda mudança de atitude.
A partir daquele dia, palavras e atitudes negativas foram totalmente evitadas. Por todos. Se por um acaso alguém dissesse “eu não consigo”, imediatamente vinha a resposta: “É claro que você consegue. Lembre-se que o ‘eu não consigo’ está morto”.
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